sexta-feira, 15 de julho de 2011

Fantástico! Ainda não é o fim das noites de domingo.

Se algum dia você chegou a questionar-se se o domingo superava a segunda-feira no quesito "tragédia", acredite: supera muito! Na segunda-feira, ao menos os regimes são iniciados, os namoros mal-resolvidos são terminados e as pessoas tomam iniciativa por suas vidas (embora a iniciativa de suicídio registre números muito mais altos neste dia, em comparação aos outros seis). As atitudes de domingo, ao contrário, não movem o mundo nem geram manchete nos jornais. O domingo é uma mera consequência do sábado, ninguém se questiona, ninguém tem grandes ideias, ninguém resolve fazer algo revolucionário: o desânimo da ressaca toma conta, é dia de arrumar as malas, de chorar a separação, dia pra se passar de pijama. Desculpem-me os religiosos, mas domingo é um dia semimorto para o progresso da humanidade.
Até (e principalmente) a programação da TV é de se enterrar viva e mesmo a mais ignorante das criaturas já percebeu, ainda que continue inerte para isso. Mas nem tudo está perdido. A musiquinha deprimente do Fantástico ainda não é o fim (aliás, devia ser motivo de comemoração, por significar que o dia semimorto está por acabar). Nas últimas edições, as denúncias vem apimentando o programa, com um ar um tanto mais "ousado", se é que se pode dizer assim. O fato é que, mesmo tratando-se de entretenimento, o Fantástico está fazendo um papel jornalístico até então inexistente na Rede Globo. Todo mundo sabe que reportar é fácil. Difícil é arcar com as consequências de mexer com aqueles habituados a comprar a própria impunidade, como a médica que chegou a receber R$50 mil por 80 plantões "imaginários". Após as denúncias, houve registros de abandono de cargos por estes ditos profissionais, inclusive  policiais federais corruptos mostrados nas noites de domingo. E nada de esconder o rosto. As caras-de-pau têm que estar estampadas pro público ver como são limpas e em nada se assemelham aos estereótipos construídos a partir da leitura de páginas policiais.
Exercício de marketing ou não, o Fantástico vem fazendo algo pelo interesse público. Por interesse público, entenda-se o desejo comum em apagar as injustiças e promover desenvolvimento social (só pra ficar bem claro que não deve ser considerado interesse público aquele que os telespectadores têm em saber como adquirir um vestido idêntico ao da Patrícia Poeta). Sendo assim, colegas jornalistas conscientes da própria função: nem mesmo os domingos estão perdidos. A busca desenfreada pela máxima audiência e máxima arrecadação de anunciantes ainda pode ser usada de forma proveitosa. Daqui uns tempos, quem sabe... "denuncie um pilantra e ganhe a pulseira da Marina, da novela das oito". Será o ápice da superlotação nos presídios!
Brincadeiras à parte, parabéns Eduardo Salgueiro e sua equipe pela iniciativa de transformar o Fantástico, de programa chato e inútil, a entretenimento interessante e capaz de gerar, no mínimo, polêmica. A Globo conseguiu. E você? Já deixou de ser chato e inútil no domingo? Eu ainda não. Mas na segunda, eu prometo que deixo...