segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Maurício de Souza e a polêmica do personagem gay

Preconceito é daquele jeito: todo mundo acha que não tem, só porque tem um colega "pretinho" gente boa, ou coisa assim. Mas basta estar diante de algo exótico, que a rejeição logo estampa na testa. Vamos ver o que o internauta vai achar nesse caso...
Maurício de Sousa causou polêmica com a sexta edição da revista Tina (veja imagem no site Omelete, antes de prosseguir). Embora o autor diga que a interpretação cabe ao leitor, temos de convir que todo mundo conclui que o personagem é mesmo homossexual, vide a cara de espanto do namorado de Tina. Daí surge a questão: este conteúdo é adequado aos leitores da revista? Partindo do pressuposto de que os personagens da Turma da Mônica são apreciados por crianças, você ofereceria a revista a seu filho? Confesso que não sei se posso responder com toda a certeza. Talvez sim, porque pretendo dar aos meus uma educação que permita uma interpretação "natural" do assunto (embora na prática isso não seja tão simples). Talvez não, porque poderia confundir sua cabeça. Talvez sim, porque crianças não entenderiam a história... bem, isso  combina com o próprio argumento de Maurício de Sousa: de que o público da revista Tina é jovem, diferentemente dos pequenos que leem Mônica, Cebolinha, Cascão...
Nesse caso, já mudamos de pressuposto: e se os leitores de Tina são mesmo "adultos-jovens", como afirma o autor? Creio que a intenção das histórias é educar entretendo, promover um entendimento das diferenças. Você que leu revistinha a vida inteira, já encontrou alguma coisa de errado nos personagens da Turma? Eu também não. Mas há quem alegue existir uma "apologia" ao homossexualismo no contexto. Isso é absurdo. Primeiro, porque a referência é sutil. Segundo, porque não há como fazer apologia em um caso como esse. Ninguém escolhe se quer ou não ser gay. Ou é ou não é! Uma história em quadrinhos define isso? Claro que não, nem nunca vai definir.O máximo que pode acontecer é estimular alguém a "sair do armário". E isso é ótimo: pessoas que se assumem são comprovadamente mais felizes.
Acho que estamos nos precipitando, especialmente por se tratar de alguém com tanto crédito como Maurício de Sousa. O que ele fez foi representar o que acontece diariamente em qualquer lugar. Em conjunto com uma boa educação, isso pode preparar muitos adolescentes a encarar as diferenças de outra forma. Não precisamos de gente pra queimar índios pataxós por aí, obrigada. E se gosto realmente não se discute, respeito é fundamental.
Foto: Omelete

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dica de Livro: "A Era do Escândalo"


As 518 páginas podem assustar. Mas, uma vez dentro do primeiro capítulo de "A Era do Escândalo", Mário Rosa e os relatos de seus personagens te fisgam pelos olhos. E pela imaginação. Mais que lições sobre crise imagem, o livro convida a viver o dilema de pessoas e corporações que tiveram sua reputação levada a baixo de zero. São relatos de quem viu e sofreu na pele o massacre da mídia, incluindo casos como a queda do voo 402, da Tam, os bastidores da crise de energia em 2001 e o afundamento da maior plataforma da Petrobras. Há ainda o relato de Glória Pires para o drama que começou com uma simples fofoca. E, claro, escândalos políticos, como o que atingiu o ex-ministro da saúde Alceni Guerra.

Aprendemos como as crises de imagem pública podem ser superadas e quais erros podem ser fatais. Um livro para profissionais de comunicação e para qualquer um que aprecie uma boa história. Mas, o mais importante: um livro que desfaz por completo a ilusão de que a mídia está em busca da verdade. Os erros são grosseiros, muitas vezes propositais e demonstram que mesmo os veículos mais críveis do país estão a anos-luz do Código de Ética que rege o jornalismo. Tudo em detrimento dos "alvos" que ilustram as capas e do público que consome as informações contidas.

Nome: A Era do Escândalo
Autor: Mário Rosa/ Editora: Geração
Foto: relativa.com.br

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Geisy Arruda e a "saia justa" dos alunos da Uniban


Geisy Arruda. Este caso é mesmo indigesto. O Sonrisal não vai adiantar, precisamos logo de um Eparema. Que a mídia é tendenciosa, isso todo mundo sabe. Objetividade jornalística é utopia e o jornalismo cívico, aquele que presta serviço ao público, nem deve procurá-la. No caso do Fantástico, por exemplo, a intenção de entretenimento é clara. Portanto, nem precisamos comentar que, na notícia sobre a estudante agredida por usar uma roupa "curta", a escolha de Glória Kalil como entrevistada foi muito coerente. Coerente com os padrões do programa. Pois o público está mesmo interessado em saber a opinião de uma consultora de moda, o rosa-choque do vestido não parece ser a tendência do verão 2010...
Mas isso nem foi a parte que me entalou na garganta. Foram os outros alunos da Uniban, "colegas" de Geisy e, portanto, agressores da estudante. Pois se não a agrediram fisicamente, agrediram verbalmente. O que foi aquilo que disseram, meu Deus? Depois de ser expulsa da unidade pela direção e depois novamente admitida, a garota deve estar pensando em mudar de país (e de trajes, claro). E o que seus colegas acham da readmissão: a faculdade vai ficar mal-vista. Espera aí... quem foi mesmo que fez o caso virar notícia? Quem foi mesmo que cometeu o vandalismo inescrupuloso que chamou atenção da mídia? Uma garota com vestido "curto" seria noticiada por si só? Claro que não. Mas sim o julgamento arbitrário dos estudantes.  A punição que acharam de direito infligir sobre Geisy. Se a garota está errada ou não, não vem ao caso, no momento. Pois nada justifica o linchamento social sofrido por ela, já que a suposta punição cabe à justiça. Mas agora que o caso ganhou até repercussão internacional, a má fama da faculdade está preocupando! Ninguém vai conseguir emprego, depois de formado... que tragédia. Agora, pergunto: existe espaço pra vândalo no mercado de trabalho? Os estudantes não deveriam estar tão preocupados, pois são agentes acima da lei, certo? Façam o favor, estudantes da Uniban: larguem as pedras e apanhem os livros. Acho que nunca pensaram nessa solução.

Foto: Portal GM
Indico também a interpretação do cientista político Diogo Tourino