sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

COP 15 e o Verdadeiro Acordo


Se não me falha a memória, foi o ilustre Alexandre Garcia que declarou: “não há clima de acordo no acordo do clima”. A COP 15 chega ao fim, mas as divergências permanecem e, pelo jeito, estão apenas começando. Isso porque estão todos mais preocupados com quanto vão tirar do bolso e menos com as medidas que servem pra alguma coisa. Afinal, bom mesmo é aproveitar a praia... quando o câncer de pele vier, daqui uns 30 anos, a gente vê o que faz.
Mas, se os efeitos do famoso “aquecimento global” estão mesmo "longe", por que todos os dias a população de São Paulo se afoga? Por que a tranquilidade do velhinho de Catanduva (SP) foi interrompida por uma colossal pedra de gelo em um dia SEM chuva? Os tornados sempre frequentaram o Paraná? Bem... se o que vemos na TV hoje não é efeito do aquecimento (provocado por nós), São Pedro está profundamente aborrecido com a Terra.
Como a segunda hipótese é remota, receio concluir que a Conferência do Clima chegou tarde demais. Mas, antes tarde do que nunca, pensemos no que pode ser feito agora. Muito se discute sobre um fundo climático internacional, o que é muito importante, mas a médio ou longo prazo. E, paralelamente, pouca gente sabe o poder que tem uma boa propaganda. Digo propaganda no sentido real da palavra: propagação de ideias, princípios. Alguém se lembra da iminência de apagão no governo FHC? Pois então... ele nunca aconteceu. Graças à propaganda, à conscientização da população. É claro que em matéria de aquecimento global, a dimensão é mais grave. Mas fazer nossa parte, em nosso próprio país, cidade ou condomínio, é essencial (aliás, pra tudo!).
Quanta gente polui o meio ambiente por pura ignorância? Vai à padaria de carro, usa o vaso sanitário como lixo e não tem a menor consciência de que está se autoenvenenando. Consumir é contribuir com o aquecimento, pois para produzir, polui-se. Muitos até sabem o que estão fazendo. Mas como a desgraça ainda não bateu à sua porta, ainda têm a ilusão de que "não vai acontecer comigo".
O primeiro passo para uma grande mudança é o conhecimento de todos sobre suas razões e consequências. Assim como faz uma empresa para alcançar seus objetivos, salvar o planeta também deve ser encarado como uma MISSÃO, arraigada a cada atitude. E todos os "funcionários" devem estar na mesma "vibe", trabalhar em conjunto. Pois se o egoísmo prevalecer, o prejuízo virá para todos. Infelizmente, atinge primeiro o "chão-de-fábrica", mas acaba alcançando a diretoria. Daí, é irreversível.
A COP 15 é válida para garantir a participação de todos. Mas a solução começa por aqui, por aí, pela casa do vizinho. Cada um no seu quadrado, mas fazendo a sua parte no globo. Não adianta esperarmos uma solução milagrosa vinda da Dinamarca, pois os óxidos, monóxidos e dióxidos que já exalamos até hoje não vão sumir. E nem adianta por a culpa nos americanos. Eles são (ir)responsáveis, claro, mas o "castigo" virá e já está aí: compartilhado, mesmo que você seja (será?) um inocente, na história.    

Veja também o vídeo: "O consumidor é quem manda" (no aquecimento global)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Orgulhosamente covardes


"Elisa, por que você não fala do Brasileirão no seu blog?" foi a pergunta que um leitor (bastante crítico, aliás) me fez. De início, pensei em responder: "porque não seria agradável, a 100% dos internautas, ver mais um vangloriando o Flamengo". Mas não foi o que eu disse a ele. Não abordaria o tema porque, até então, o Campeonato estava sendo bem digerido. Exceto os engasgos diante da selvageria nos estádios, mas que já não espantam, apenas repelem para longe. Por isso, respondi apenas que se eu fosse refletir sobre o futebol, acabaria chegando à conclusão de que, por um time, não vale colocar em risco nossa saúde cardíaca.
Então veio o episódio do estádio Couto Pereira, que sofreu interdição após vandalismo e tentativas de assassinato (convenhamos!) dos torcedores (denominação afável para designar os doentes mentais que praticaram a ação). E as imagens sensacionalistas, aproveitadas inúmeras vezes para decolar a audiência, ganharam uma finalidade mais nobre: identificar os agressores. Incrível como ninguém pensou nisso antes. Mas em um dos casos, nem precisava... um coritibano estava na academia, se orgulhando da "coragem" exibida no estádio, sem sequer imaginar que um PM estava no local, ouvindo tudo (leia no Globo). Pois, sim. O rapaz estava se orgulhando! Desenvolvendo os músculos, atrofiando o cérebro... o tipo de pessoa que tem muita contribuição para oferecer ao mundo, certo? Ele não foi ao estádio para torcer. Foi lá para exacerbar um espírito enrustido de diabo da tasmânia ou sabe-se lá o quê. E tudo isso por trás do "argumento" de torcedor.
O Brasil é o país do futebol por seu mérito, por sua habilidade. Pela paixão que une os amantes de um  clube no mesmo tom. Promove uma força invisível, mas que sempre se reflete nas chuteiras do gramado. Não há como negar, mesmo sendo piegas. Pena haver quem utilize essa união para fins desprezíveis. A união que faz a beleza de um estádio também é a união que encoraja os covardes. Como o rapaz, referido acima. Peça-o para avançar sozinho e, depois, quem sabe, haverá um motivo para se orgulhar. Seria melhor, mesmo, ter se preparado assim. Pois numa cela superlotada, é isso mesmo que ele vai ter de fazer.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Piada infeliz, reações desconexas


50 prostitutas e meio quilo de cocaína. De acordo com o ator Robin Williams, foi com o envio desse "presente" que o Rio ganhou a disputa pela sede das Olimpíadas (veja no youtube).  Será que ele se baseou na própria conduta? Porque, claro, seria uma proposta tentadora para um viciado (talvez se tivessem lhe enviado um “teco”, ele não estaria tão insatisfeito). Mas, brincadeiras à parte, a que essa cena nos remete? Piadinha de mau gosto... deboche de estrangeiro... ironia... ops! Parece até brasileiro falando. Sem querer isentar de culpa esse saudosismo distorcido ao palhaço do filme Patch Adams, vamos a uma observação: as opiniões no Twitter estão mais ou menos “equilibradas”.
Tem gente que diz “eu gostava do Robin Williams. Até ontem”. Tem quem o ofenda. Tem quem  mostre que ficou ofendido, fazendo questão de dizer que não está nem aí. Mas a opinião que mais me chamou a atenção foi: “a piadinha é um estereótipo bobo. Mas a reação por aqui está sendo também, um clichê nacionalista só”. E isso não é verdade? Quem nunca fez piada de português, argentino, colombiano... que atire o primeiro tomate! Por que estamos tão ofendidos? Se estivéssemos no lugar dele, faríamos o mesmo. Com o nosso país ou com o país dos outros.
A piada de Robin Williams me lembrou um e-mail que recebi há algum tempo.  É o “jeitinho brasileiro” de que tanto nos orgulhamos, mas esconde uma vergonhosa desonestidade que pode ser atribuída a 95% da população. Vejamos um resumo.
Brasileiro...
  • saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas
  • suborna ou tenta subornar quando é pego cometendo infração
  • troca voto por qualquer coisa: cimento, dentadura...
  • fala no celular enquanto dirige
  • trafega pela direita nos acostamentos num congestionamento
  • dirige após consumir bebida alcoólica
  • fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas
  • pega atestados médicos sem estar doente, só para faltar ao trabalho
  • faz gato de luz, de água e de tv a cabo
  • quando viaja a serviço, se o almoço custou R$ 10, pede nota de R$ 20
  • estaciona em vagas exclusivas para deficientes
  • adultera o velocímetro do carro para vendê-lo como se fosse pouco rodado
  • leva das empresas onde trabalha: clipes, envelopes, canetas, lápis... como se isso não fosse roubo (sem falar nas festas de casamento e afins)
  • falsifica tudo, tudo mesmo! Só não falsifica aquilo que ainda não foi inventado...
Agora me responda se a reação ufanista se justifica? Pois o “relato” sobre prostitutas e cocaína como suborno provocou risos. Mas é algo impossível de acontecer?
Por que será que jamais ficamos escandalizados também com cada uma das cenas descritas acima? Por que agora, no suposto caso das Olimpíadas, não fazemos como de costume e rimos da própria malandragem? Robin Williams, meu caro... sua piada me doeu, como brasileira. Mas doeu mais ainda quando concluí, ao final deste post, que ela faz o maior sentido =(

Foto: Babble.com